“Tenho mil e um Ateliers em Sintra”
Descobrimos o talento do Bruno Braddell através de um post colocado num entre muitos grupos privados do facebook, e curiosos como somos, visitámos o blog do Bruno, e descobrimos que em Sintra, há jovens artistas com muito talento, daqueles que nos apetece divulgar a toda a gente, e por isso o convidámos para o Vida de Bairro.
Bruno Braddell vive em Sintra, e conhece muito bem esta região “sempre passeei muito na Serra, com os meus pais e os meus amigos”.
O ponto de encontro para a nossa conversa ficou marcado no seu “atelier” em pleno Convento dos Capuchos (Sintra).
O Bruno fez-nos uma surpresa, foi o nosso Guia numa visita ao Convento dos Capuchos, e tivemos oportunidade de conhecer e ouvir, pela primeira vez, parte da história deste belíssimo monumento, que curiosamente é um dos menos visitados em Sintra.
Nos Capuchos, levou-nos também ao Claustro, um lugar especial “já pintei aqui muitas vezes, sentado naquele banco, virado para aquele sobreiro”, e contou-nos a sua teoria quanto ao claustro, que neste Convento, tem a particularidade de ser em espaço aberto “é um claustro se fecharmos os olhos, porque só ouvimos o som do vento e da água…”.
A paixão pelo desenho e pela pintura ganhou-o cedo, graças ao Pai que o obrigava a andar sempre com blocos de desenho, mas só com a entrada no secundário, num curso de Artes, aperfeiçou a arte de desenhar “fiz uma grande evolução no desenho, tínhamos de andar sempre com um bloco e foi aí que comecei a ganhar outra vez “a mão”, comecei a desenhar cada vez mais, todos os dias…”.
Os blocos, que já são mais de vinte, são um deleite para os nossos olhos, páginas e páginas de desenhos e aguarelas, de diferentes tamanhos, formas e feitios, tons e cores, com poemas e pensamentos pessoais, que marcam e registam a sua passagem, em jeito de diário, pelos inúmeros sítios e locais, em Portugal ou no estrangeiro..
Sintra é o seu local de eleição “sempre que posso, venho aqui algumas horas nem que seja para desenhar ou para ver”, reforçando que “Sintra é a minha inspiração, é aqui que tenho vários ateliers, em cada sítio em que me sente e faça um desenho, é o meu atelier… tenho mil e um ateliers em Sintra”. Confidenciou-nos que “às vezes faltava às aulas e vinha para a serra descobrir coisas…”, e quando o interrogámos se os pais sabem dessa história, a sua resposta diz tudo “se ainda não sabem já deviam calcular…”.
Terminou recentemente o curso de Arquitetura, apesar do curso não o ter preenchido como esperava, sobretudo porque não lhe era permitido ter total liberdade com a fase de criação “eu gosto muito mais do estilo orgânico, natural, das coisas a acontecer”, mas mesmo assim quer tentar ser Arquitecto, apesar dos atuais constrangimentos em arranjar trabalho, “sei que não vai ser fácil, mas primeiro vou acabar a tese”, tendo a certeza porém que “não me vejo a viver longe de Sintra”.
Quando o questionamos quanto aos melhores sítios para desenhar e pintar mencionou ”o claustro do palácio da Pena e os seus jardins… e gosto muito da tapada do Mouco, do Monte Real…mas os Capuchos, para mim, é o mais especial de todos”, contando-nos ainda que “os jardins da Pena e o Convento dos Capuchos são os pontos altos de Sintra, são os meus ateliers”.
Explicou-nos que “são tudo sítios que fui descobrindo com os amigos”, realçando que “isto é tudo tão bonito que às vezes não consigo desenhar”. Contou-nos, ainda, que, um dia, numa visita à praia da Ursa, carregado com a sua imensa mochila, repleta de aguarelas, tintas, óleos, cavalete, pincéis, e afins, e com um percurso atribulado pela frente “cheguei lá abaixo e fiquei na toalha a olhar para a praia e não fiz nada, levei imensas coisas e fiquei apenas a olhar”.
Para o Bruno tudo se resume à teoria do “the zen of seeing”, segundo o escritor Frederick Franck, em que o “ver” é a ferramenta mais importante, já que “a melhor máquina de fotografia são os olhos”. Já fez algumas exposições de desenhos e aguarelas, fora de Sintra, mas gostava que a Câmara valorizasse mais os seus artistas “deveria haver um maior apoio aos artistas de Sintra e prémios nos domínios das Artes, para incentivar”.
Bruno Braddell tem muitos projetos em mente que gostaria de realizar, mas tem a certeza que haverá sempre uma ligação à pintura e ao desenho, assumindo esta arte como um compromisso “tem de haver sempre tempo para desenhar, e se não há, é preciso arranjá-lo…” mostrando ainda a paixão que o move “não há um dia em que eu não desenhe, tenho que ter sempre essa atenção, nem que seja 10 minutos a fazer um desenho”.
Nos desenhos e pinturas do Bruno Braddell há paisagens e locais desenhados com rigor e pormenor, captados durante minutos ou largas horas, mas sempre sem a pressão do tempo e com recurso ao simples olhar, ensinando-nos que nos atuais tempos modernos, esquecemo-nos muitas vezes do mais simples, da importância de por vezes ser preciso “tirar” ou “dar” parte do nosso tempo apenas para “contemplar”.
Contemplar
v.t. Olhar atentamente, embevecidamente e demoradamente. Meditar em, refletir.
Vida de Bairro
Ricardo Gonçalves Site | Facebook
Sofia Aleixo