“A agricultura biológica hoje em dia é o que faz mais sentido”
A agricultura biológica deixou de ser uma moda e passou a ser, para muitos, um projeto de vida.
Telmo Teixeira e Filipa Quadrado são dois jovens agricultores, a residir em Sintra, também conhecidos como o Casal Hortelão, cuja Horta fica na aldeia de Cordiceira em S. João das Lampas.
O Telmo é o primeiro a receber-nos “à porta” do terreno, onde tudo acontece, já na Horta, encontramos a Filipa atarefada numa entre muitas tarefas que povoam o dia-o-dia de quem trabalha na agricultura.
A conversa começou dentro da estufa, que ajudaram a planear e criar, e onde nos contaram como tudo começou.
Foi no ano de 2009, quando viram um documentário que falava sobre a agricultura biológica, na vertente social e ambiental “decidimos tirar um curso para ver em que consiste isto de produzir hortícolas, na Agrobio” (Filipa).
Foi nessa altura que “começámos a ter a certeza que queríamos mesmo mudar a nossa vida para isto, fizémos muitas contas, estudámos muito e demorámos cerca de um ano a encontrar o terreno” (Filipa).
Começaram a produzir em agosto de 2011, quanto à Agricultura Biológica não têm dúvidas “hoje em dia é o que faz mais sentido, não temos muita quantidade, mas não é essa a nossa ideia, queremos abastecer localmente, famílias e mercados locais” (Filipa). Em outubro de 2011 começaram a vender diretamente no Mercado Agrobio de Cascais, todos os sábados de manhã.
A variedade de produtos é algo que prosseguem já que o impacto da agricultura convencional no meio rural é muito pesada, segundo o Telmo, formado em Sociologia, a ideia é “revitalizar as faixas rurais à volta das cidades, mostrando que é possível produzir produtos de qualidade, saudáveis, de um modo racional e perto das pessoas”.
Asseguram que cada vez mais a agricultura é para os jovens, mas que em Portugal chega sempre tudo com algum atraso e que “lá fora” há países onde existe uma grande comunidade de jovens agricultores.
Filipa, licenciada em Engenharia do Ambiente, não se arrepende de ter deixado o trabalho que tinha, e assegura “adoro estar aqui, não gosto de estar num escritório, estou ao ar livre, tenho sol, chuva, é aqui que eu estou bem”.
Comentam o facto de nunca se terem visto como empreendedores ou como pessoas que gostem de arriscar, mas “pegar num projeto de origem e estar a levar o mesmo para a frente é um desafio e está a correr bem” (Telmo).
Aprendemos com o Casal Hortelão que as fases de transição entre culturas no outono e em março/abril são as mais difíceis. Na horta da Filipa e do Telmo podemos encontrar ervas aromáticas como a salsa ou o manjericão, coentros ou cenouras, cebolas ou feijão, ou seja de tudo um pouco, nos tabuleiros estão já a crescer couves rábano, nabos e feijão.
Telmo acredita que “as pessoas estão a começar outra vez a dar valor à agricultura”, sendo que tudo o que produzem escoam sobretudo junto de particulares, mas não se consideram grandes vendedores “os amigos e os vizinhos é que passam a palavra, fazemos algumas entregas na Vila de Sintra, e vendemos no mercado agrobio de Cascais, tem sido bom porque publicitámos no facebook, e na prática sem fazermos nada as pessoas têm vindo ter connosco” (Filipa).
Quanto ao projeto dizem que “tem sido bom, e tem sido lento o suficiente para nos permitir crescer e aprender” (Telmo). Em Portugal, dizem, ainda existe falta de informação sobre a agricultura biológica, principalmente no que respeita às técnicas de cultivo, pelo que estudaram muito sobre o que se passa noutros países, onde se partilha mais informação e se trocam experiências.
Têm clientes certos, que os visitam todas as semanas para comprar única e exclusivamente os seus produtos, orgulham-se de dizer que “tudo o que está na banca é nosso”, tanto no que respeita ao fruto do seu trabalho, como em termos de rigor na qualidade dos produtos e no modo de produção.
O Casal Hortelão ensinou-nos que a agricultura biológica é mais do que uma moda, é uma atividade importante no fomento da economia local, que contribui para uma alimentação mais saudável, melhorando o ambiente e favorecendo a biodiversidade, e mostraram-nos que há muitos jovens que “não têm medo de sujar as mãos” por um modo de vida que se pretende mais saudável e responsável.
Na Horta do Telmo e da Filipa é possível avistar o Palácio da Pena e a sua imensa mancha verde, e não tardou muito para sentirmos na pele o quanto “este ar acalma as pessoas”.
Na hora da despedida o Casal Hortelão ofereceu-nos ainda um bonito e luxuriante molho de acelgas, colhidas na hora, “sem corantes nem conservantes”, e não demorámos muito para perceber que aqui na Horta tudo tem outro sabor.
|
|||
Vida de Bairro
Ricardo Gonçalves Site | Facebook
Sofia Aleixo